terça-feira, 11 de março de 2014

"K_", Projeto de César Meneghetti

Karoline Mendes Ruiz


Ao entrar no Paço das Artes – espaço lindo da Universidade de São Paulo - dá-se de cara com uma bela exposição do colecionador Sérgio de Carvalho, recheada de obras interessantíssimas. No entanto, é preciso passar por ela perseguindo um som baixo e um tanto estranho até a sala mais ao fundo do local para encontrar o forte trabalho do artista visual e cineasta paulistano César Meneghetti.

Adentrando-se a sala escura, tem-se contato com uma instalação composta por duas grandes telas nas paredes opostas e um banco desconfortável entre elas. Nas telas, dois dos sete trabalhos que compõem a série K_lab – interacting on the reality interface: as obras K 05_still femmes (vídeo, 15’, HD, cor) e K 06_01011001 (tríptico vídeo, 4’, 10’ e 11’, HD, cor).  


O trabalho, realizado na África (Níger-Itália) entre 2007 e 2009 é composto por vídeos, fotografias, instalações e documentos que narram, analisam e documenam através da estética, o trabalho da população - feminina, na maior parte - no combate à desertificação do Vale de Keita, região localizada entre o Sahael e a áfrica Central. Das diversas missões empreendidas na região, acompanhado do fotógrafo italiano Enrico Blasi e do cinegrafista inglês Sam Cole, surgiu o projeto.

Um dos vídeos, K 05_still femme, retrata camponesas africanas na pausa de seu trabalho diário. Suas expressões - ora tristes e cansadas, ora vaidosas frente à câmera - seus olhares, marcas e peles queimadas carregam, em menos de um minuto de exposição, toda a história de cada uma dela. Confesso que, apesar da visível dor presente em seus rostos, me peguei com inveja da força e da beleza que exalavam. O fundo de terra seca formava um degradê de cores com os tons de suas peles e contrastavam com a vivacidade das cores dos panos, adornos e vestidos. Tudo naquelas imagens era muito intenso e real. O outro vídeo,  K 06_01011001, trata da terra, árida, laranja, seca. Muitas vezes retratada no contato com a água, numa quase ironia à realidade local. As texturas, em minha cabeça, lembram peles, e dão vontade de tocar. Pouco se define do que está sendo exposto, além das cores, contrastes e texturas.

A impressão que se tem é de que a obra é grande demais para caber naquela sala, o que a faz vazar um pouquinho, através do som. Esse, composto pela mixagem de sons advindos da própria captação, uma espécie de zunido - que me lembra barulho de choque - e um rap chamado "Ma Rage" (Minha Raiva) de ZM (Zara Moussa), única rapper feminina da áfrica Ocidental. A letra, que fala sobre a situação da mulher meio à sociedade e à aridez local, é traduzida num último momento do primeiro vídeo. 

A mostra K_ teve abertura no dia 8 de março e ocorrerá até 6 de abril, com entrada gratuita, no Paço das Artes, localizado na av. da Universidade, 1, Butantã. Terça à sexta, das 10h às 19h e sábados e domingos, das 12h30 às 17h30.

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